Blue Mountain Parte 2: O Resgate.
É impressionante como no volante de um carro tudo pode mudar rapidamente. Um pequeno deslize e às vezes, já era... Naquele sábado foi exatamente assim. Estávamos indo bem. Mas num momento repentino caímos numa espécie de barranco que fica ao lado da pista. Declive esse que costuma ocorrer quando tem grandes plantações em volta. A neve chegava numa dada altura que não conseguiamos ver o que fazia parte da estrada e o que fazia parte da “plantação”, tamanha a quantidade de neve. Quando olhávamos em volta parecia tudo um campo de mesmo nível e com acostamento que estamos acostumamos a ver na estrada.
Ainda bem que quando caímos eu não tentei, numa medida desesperada, tentar forçar o carro a sair, enfiando o pé no acelerador por exemplo. Nosso primeiro movimento é o de sair o mais rápido possível sem nos darmos conta que já é tarde demais. Talvez se tivesse feito isso o estrago poderia ter sido bem maior.
Quando o carro parou e tivemos que sair pelo lado do motorista, a primeira reação, claro, é olhar em volta do carro. Comecei a olhar mais de longe, fui pra trás do carro pra ver a situação e, quando dei um segundo passo à frente da traseira do carro em direção pra fora da pista, caí também.... :-) A neve veio quase na minha barriga. Era aquela neve bem fofa onde o gelo não chega a se solidificar e, por isso, ela ficou tão alta a ponto de ficarmos eu e o carro afundados na neve (tive que ter uma ajudinha pra subir de novo)...hehehe.
O pessoal parecia gente fina. Um deles foi conosco até o carro ver a situação e procurou logo de cara pelo maldito engate do reboque que tava faltando. Foi quando ele disse que se tivesse o reboque bastava eles usarem correntes pra poder puxar o carro. Foi nesse momento que o motorista colocou a caminhonete do nosso lado, onde estava o carro. Primeira coisa que o cara me disse???
- Peguei as correntes, onde tem o engate pra gente puxar?
- Não temos.
- Cara, não posso me responsabilizar por qualquer dano no veículo, se der algum problema no momento de puxar será responsabilidade de vocês, vocês querem mesmo assim?!
Infelizmente não pudemos aceitar. E se na hora de puxar despedaçasse um pára-lama ou o pára-choque? isso se o carro não virasse de vez no barranco! Já tava imaginando o carro rolando e as coisas ficarem cada vez piores...hehehehe. Sabem aqueles filmes onde a situação dos personagens só vai piorando? Pois é, O Trailer já tava rodando na minha cabeça, só bastava teclar o Pray, digo, Play pra rodar de vez.
Foi quando lembramos que o carro não era nosso, era da locadora e que estávamos pagando um bom dinheiro e que tudo poderia ser mais fácil, afinal eles têm equipe especializadas pra isso e certamente ligaríamos e eles resolveriam tudo, certo? Errado. Como não tínhamos telefone o cara oriental que estava nos ajudando (um dos que estavam na casa da esquina) pegou o celular e ligou pra Hertz. Atendeu uma mensagem indicando um outro número sendo que nesse momento, já estávamos há uns dez minutos num frio onde a sensação térmica beirava os menos 30. O tempo era algo que corria definitivamente contra nós. Sim, porque quando o carro estraga no Brasil e vc fica esperando ajuda você não vira picolé.
Puxei o meu celular (que não tem chip habilitado) o qual tem teclado completo onde "posso" escrever até esse blog se quiser! O problema que na hora do frio, a articulação dos meus dedos já não funcionavam direito....rsrsrs. Não conseguia de jeito nenhum acertar as teclas. E o cara esperando eu usar aquele aparelho todo bonitinho mas que na hora do pega-pra-capar mais dificultou do que ajudou.
Anotado o número fomos até uma padaria que estava há uns 300 metros pra poder se abrigar um pouco e desalugar o amigo de olho puxado que nos emprestou o celular. Chegamos nesse lugar e a primeira coisa foi tentar usar o telefone pra pedir ajuda pro número que a assistência da Hertz nos forneceu. Ligamos pro tal número e nada. Ligamos de volta pra Hertz e nada. Sem chance... tentamos várias vezes e nada. Acabamos saindo e fomos novamente alugar o cara do celular...
Sem exageros, o cara ficou uma meia-hora com a assistência da Hertz (só não me pergunta porque da padaria não funcionava...). Foi um dos piores serviços de call center que já usei, acho que só perde pro da BrasilTelecom (páreo duro)....rsrsrs. O cara já começou a se indignar pois já estávamos há vinte minutos e o atendente, que parecia fazer de propósito, perguntava várias vezes a mesma coisa: nome de quem alugou o carro, placa, número da reserva, etc. Quando ele terminava de fazer a última pergunta, ele começava tudo de novo. Isso quando o cara da Hertz não emendava com perguntas esdrúxulas como a cor do carro, dá pra acreditar?! Nisso o frio já era quase insuportável. Eu olhava pro cara, sem luva, falando no telefone e já tava com pena do coitado... Ele já devia estar mais do que arrependido. Acho que ele só não desligava porque ele ficou muito indignado com a Hertz. Só faltou xingar a mãe do cara do outro lado da linha...
Sem contar que enquanto ele ficava no telefone, começamos a puxar conversa com o camarada dele e descobrimos que eles estavam saindo pescar no gelo (Ice Fishing), onde o pessoal faz um buraco no gelo, coloca anzol e espera o peixe fisgar...
Não preciso dizer que não conseguimos nada com a Hertz né?! Simplesmente desistimos. Voltamos pra onde estava o carro e procuramos pegar todas nossas coisas afinal resolvemos deixar ele ali mesmo e voltar pra Toronto de algum modo. Assim poderíamos avisar pessoalmente a Hertz que o carro deles ficou preso na neve.
Voltamos mais uma vez pra padaria (isso já tínhamos uns 45 minutos na rua, nevando ainda por cima). Foi daí que atinei de deixar um bilhete caso alguém tentasse mexer no carro. Anotei um bilhete, peguei algo pra colar no lado de dentro do carro e fui até lá. Na volta, quando estava quase chegando na padaria uma viatura me parou e o policial perguntou:
- É você o cara que ficou com o carro preso na neve?
- Sim. Fomos fazer um retorno e caímos.
- Se você quiser posso tentar conseguir ajuda pra você, você quer?
Como no meio dessa estória toda já tinham parado duas outras caminhonetes pra prestar ajuda mas que sempre esbarrávamos com o fato de não ter onde puxar o carro, dei uma vacilada na pergunta do policial. Afinal eu sabia que o carro não tinha a droga do engate e que se desse algum problema a responsabilidade seria toda nossa. Sim, porque uma coisa é deixar pra alguém da Hertz se responsabilizar caso dê algum problema. Outra coisa somos nós, meros mortais, nos responsabilizarmos. Percebendo a vacilada ele disse com um tom mais incisivo: - Vai querer ajuda ou não?!
Foi aí que aceitei. E lá fui pro banco de trás da viatura da polícia canadense. Tava me sentindo um marginal já...hehehe. Depois de uns dez minutos na parte de trás do carro esperando o dono de um guincho que o policial conhecia, voltamos ao supermercado pra pegar o Maurício.
Como já fazia no mínimo uns vinte e cinco minutos que tinha saído, avistamos ele já na porta do supermercado. O Policial chegou perto dele e disse pra ele entrar no carro. Nessa hora tive que rir...hehehehe. Vi ele balançando a cabeça com uma cara de que não era com ele, como se dissesse não fui eu! não fui eu! ....hehehehe. Quando o policial falou de novo pra ele entrar e apontou pra quem estava atrás, ou seja, eu, ele entrou...Tirei um sarro da cara dele mas ele falou que na hora o policial não disse que era sobre o assunto do carro... :-)
Bom, o fato é que o policial ficou conosco no local do crime, digo, do carro caído na estrada e dez minutos chegou a Tow Truck (guincho). Se não fosse pelo policial certamente teríamos gasto bem mais com ônibus, táxi até a rodoviária da cidadezinha e mais o guincho da Hertz que não seria nada baratinho.
PS1: Desculpa ter demorado uma semana pra escrever de novo a segunda parte. Mas essa tem sido a freqüência que tenho conseguido me dedicar pro blog.
PS2: Quando me vi dentro do nosso carro de novo, com o motor ligado, lembrei: vou ter que fazer a volta de qualquer maneira pois ainda estávamos na estrada errada.... Não preciso dizer que fiz o U mais perfeito da minha vida!
PS3: No final, eram mais ou menos 12:30 da tarde de sábado (saímos às 8:05) e o ocorrido foi por volta das 9:45. Passamos o dia inteiro em Blue Mountain com um prejú de apenas $30 pra cada um (em função do guincho) e não tivemos nenhum arranhão no carro. E aí? Será que tivemos sorte? :-)